P53 o guardião do DNA e seu papel na Resistência ao Tratamento Tumoral em Cães

P53 o guardião do DNA e seu papel na Resistência ao Tratamento Tumoral em Cães

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Assim como nas nossas células, cães e gatos também possuem vários mecanismos de proteção que atuam para evitar o desenvolvimento tumoral. Um desses mecanismos é desempenhado por uma proteína essencial chamada p53, conhecida como o "guardião do DNA".

A p53 tem a nobre função de proteger a integridade do material genético, ou seja, do DNA. Graças à ação dessa proteína, nosso organismo consegue evitar o desenvolvimento de diversos tipos de câncer. 

Podemos destacar quatro funções principais do p53:

1.⁠ ⁠Reparação de DNA: Quando há danos ao DNA, causados por radiação, toxinas, entre outros fatores, a p53 é ativada para coordenar a reparação.

2.⁠ ⁠Interrupção da Divisão Celular: A p53 pode parar a divisão celular temporariamente, garantindo que apenas células saudáveis consigam se dividir.

3.⁠ ⁠Indução de Apoptose (Morte Celular Programada): Se o dano ao DNA for irreparável, a p53 induz a morte das células danificadas, evitando a proliferação de células defeituosas.

4.⁠ ⁠Indução da Senescência: A p53 também pode fazer com que a célula permaneça viva, mas sem a capacidade de se dividir, bloqueando sua multiplicação.

Apesar de ser extremamente eficaz, o gene que codifica a proteína p53, chamado TP53, pode sofrer mutações, resultando em uma p53 defeituosa ou até na perda total de sua produção.

As mutações no DNA são comuns — cerca de 20.000 pontos podem sofrer alterações ao longo do tempo. Felizmente, a maioria dessas mutações é corrigida sem comprometer a função celular. No entanto, em alguns casos, a célula não consegue reparar esses danos, e quando as mutações afetam genes importantes, como aqueles que controlam a proliferação celular ou a morte programada, pode ocorrer o desenvolvimento de tumores.

Um dos genes mais afetados por essas mutações é justamente o TP53, que codifica a p53. Na minha pesquisa publicada na Revista Nature Scientific Reports em 2023, identificamos que 22,5% dos tumores caninos apresentam mutação nesse gene. O mesmo ocorre em humanos, sendo o TP53 o gene mais frequentemente mutado em diversos tipos de câncer.

Quando o gene TP53 sofre mutações ou perde sua função, as células danificadas perdem a capacidade de reparar o DNA ou de morrer quando necessário, permitindo que elas se multipliquem descontroladamente. Em muitos casos, as mutações no TP53 também podem surgir durante o tratamento quimioterápico, tornando as células inicialmente sensíveis ao tratamento resistentes, o que leva à falha terapêutica.

Os tumores com mutações no TP53 tendem a ser mais agressivos e frequentemente apresentam resistência à quimioterapia. Ao realizar o Painel OncoScan e identificar a perda de expressão ou mutações nesse gene, buscamos estratégias que complementem ou até substituam a quimioterapia, já que ela pode não ser tão eficaz nesses casos. Uma das alternativas é o uso de terapia alvo, que pode melhorar a resposta ao tratamento e aumentar as chances de sucesso.

A mutação do TP53 é um importante indicador de resistência terapêutica e agressividade tumoral. Identificar alterações do TP53 através de painéis como o OncoScan ou FidoCure permite a personalização do tratamento, ajustando estratégias e incorporando novas abordagens, como terapias alvo, para maximizar a eficácia e melhorar os resultados clínicos. Isso demonstra a importância da medicina de precisão na oncologia veterinária, oferecendo opções mais avançadas e eficazes para o tratamento de pacientes com câncer.


Lucas Rodrigues
Médico Veterinário


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